No sábado passado estivemos num workshop de Baby Led Weaning (BLW) na Clínica Amamentos com a Dra. Graça Gonçalves (médica pediatra) e a Enf. Carmen Ferreira do blog Bebé Saudável e adorámos! Neste post partilho um pouco daquilo que aprendemos no workshop, uma vez que sei que há muitas mães interessadas no tema (e ainda bem!). Completei o post também com alguma informação que obtive da querida Leonor do blog Na Cadeira da Papa que tem experiência em BLW com as suas duas filhas (e daqui a uns meses iniciará a experiência com o seu terceiro rebento).
Este post não é uma descrição intensiva de todos os aspetos de Baby Led Weaning e Alimentação Complementar. É apenas um resumo daquilo que aprendemos no workshop com os aspetos que acho mais relevantes. Não sou expert no assunto e nem sequer tenho experiência porque o meu bebé ainda não começou a comer. Mas de qualquer forma partilho aqui alguma informação que penso que possa ser útil a quem quer saber mais sobre o tema.
Para quem não sabe, o Baby Led Weaning (em português poderá traduzir-se para “o bebé guia o desmame”) é uma forma de introduzir a alimentação complementar do bebé baseada na partilha e nas refeições em família. O bebé come ao mesmo tempo que a família e come alguns (ou mesmo todos) os alimentos que a família está a comer.
Os alimentos que a família está a comer na refeição são apresentados ao bebé, sejam eles crus ou cozinhados, em pedaços que o bebé possa agarrar e levar à boca (para começar), se assim entender. Quando o bebé conseguir usar talheres passará a utilizá-los e com isto passará a comer comidas que necessitam de talheres (como a sopa, por exemplo).
Esta forma de introduzir a alimentação complementar no bebé é uma alternativa ao método convencional de dar apenas papas e sopas, em que tudo é passado e dado ao bebé à colher por um adulto. Desta forma, o bebé tem uma posição participativa na sua alimentação e decide o que quer, quanto quer e quando quer comer. É importante confiar no apetite do bebé e no seu nível de satisfação.
É engraçado que antes de eu ter conhecimento do BLW a minha intuição já me dizia que os primeiros alimentos que queria dar ao meu bebé seriam pedaços de fruta madura para ele agarrar e degustar a seu gosto. Esta parecia-me a forma mais natural de iniciar a alimentação num bebé. Achava as papas e sopas passadas muito redutoras e muito longe daquilo que é a alimentação natural. Só mais tarde descobri que esta forma de alimentar os bebés já tinha nome (o BLW) e está cada vez a ter mais adeptos.
Isto do BLW pode parecer a muita gente uma coisa inovadora, uma invenção da era moderna, mas na realidade não é diferente daquilo que as mães faziam há décadas atrás (e certamente fizeram durante milhares e milhares de anos) antes da invenção da varinha mágica ou da bimby para fazer as papinhas e sopinhas passadas. As mães comiam com os filhos ao colo (porque também não havia cadeira da papa) e os seus bebés, quando estavam prontos, roubavam os alimentos das mãos das mães e levavam à boca e assim começava a alimentação complementar.
Algumas das vantagens do BLW:
O bebé tem contacto com a textura, cor e sabor real dos alimentos e assim ganha gosto em comê-los. Muitas mães que só dão papas e sopas passadas aos bebés queixam-se mais tarde que os seus bebés não gostam de nada quando chega a altura de introduzir os sólidos (tivemos um exemplo no workshop de uma mãe de um menino de 17 meses em que acontecia precisamente isso e ela decidiu procurar ajuda no BLW). Os bebés do BLW geralmente tornam-se crianças de “boa boca”.
O BLW estimula a motricidade fina, a coordenação mão-visão e a mastigação. Os bebés do BLW geralmente desenvolvem a motricidade fina mais cedo e conseguem, por exemplo, começar rabiscar com lápis aos 12 meses.
O BLW estimula a harmonia familiar à hora da refeição. Não há aquele stress de ter de dar a sopinha ao bebé antes de todos comerem. Os bebés não são seres de outro planeta, eles fazem parte da família e querem sentir-se integrados nela. Por isso é importante que o bebé coma ao mesmo tempo que a família.
Sabe-se que a mastigação deve ser estimulada e desenvolvida dos 6 aos 10 meses. O que acontece com o método convencional das papas e sopas é que não há estimulação da mastigação de sólidos neste período e quando os sólidos são introduzidos a “janela da mastigação” já passou, o que torna o processo muito mais difícil. No BLW a mastigação é altamente estimulada.
O BLW estimula a autonomia e autoconfiança do bebé. Ele alimenta-se de forma autónoma e aprenderá com o exemplo da família a gostar da boa comida (se a família se alimentar bem…).
Quando deve ser introduzido o BLW?
A OMS recomenda que o bebé seja alimentado a leite materno em exclusivo até aos 6 meses e como tal a alimentação complementar poderá ser introduzida a partir daí. Isto não significa que o bebé esteja pronto para comer no dia em que faz 6 meses. Alguns bebés poderão estar prontos dias ou semanas antes, outros poderão estar prontos apenas aos 7, 8 ou até 9 meses. É importante que o bebé se consiga sentar bem sem apoio e que seja ele a procurar os alimentos e a levá-los à boca com as suas mãos.
Iniciar a alimentação complementar não significa desmame! O leite materno será sempre o alimento principal no primeiro ano de vida. A Dra. Graça salientou: durante o primeiro ano de vida, se compararmos uma refeição de sopa, por mais enriquecida que seja, e uma refeição de leite materno, o leite materno está acima mil vezes! Ou seja, não há que forçar bebés a comer se não quiserem, desde que tenham a maminha disponível para eles. A OMS considera que o desmame antes dos dois anos é um desmame precoce, ou seja, é importante manter a amamentação pelo menos até aos dois anos de idade (idealmente até mãe e bebé quererem).
(Nota: para mães que não estão a amamentar penso que poderão naturalmente usar o BLW com os seus bebés mas não tenho informação suficiente para vos dar nesse campo. Por isso recomendo que procurem ajuda especializada se pretenderem saber mais.)
Como se faz? É simples! O bebé senta-se à mesa com a família (pelo menos com um familiar) na hora das refeições. Pode utilizar-se uma cadeira da papa (mas à mesa por favor, não coloquem os vossos bebés à parte como se não pertencessem à família) ou poderá ficar ao colo de um adulto. Os alimentos são oferecidos ao bebé para ele pegar ou são colocados à sua disposição (por exemplo no tabuleiro da cadeira da papa), de preferência sem pratos ou tijelas para não desviar a atenção, e deixa-se que o bebé explore à vontade. Ele vai agarrar, sentir a textura, o cheiro, e se entender levará à boca para provar. O bebé come o que quiser!
Nas primeiras semanas ele poderá não comer nada e vai sujar tudo. É normal e não há stress (aguenta mãe…)! Nada de pressões! O leite materno continuará a ser o seu principal alimento. O bebé pode, desde início, sentar-se à mesa e ser apresentado a alimentos em todas as refeições que a família faça (não se aplica a regra de começar com uma refeição, depois passar a duas, etc). Atenção que o bebé não deve estar com demasiada fome nem estar demasiado cheio nem cansado ou com sono. Se tiver muita fome devemos dar maminha primeiro. Se continuar com fome depois da refeição damos mais maminha. Maminha, maminha, maminha!
Que alimentos dar?
A alimentação complementar dos bebés é muito menos complicada do que a pintam. Esqueçam as 500 mil regras de introdução de alimentos, número de refeições, alimentos proibidos, etc, etc…No BLW (e na alimentação complementar em geral) essas regras não de aplicam! Se pensarmos bem faz todo o sentido: as nossas mães ancestrais não saberiam nenhumas dessas regras. Anteriormente pensava-se que os alimentos potencialmente alergénicos só deveriam ser introduzidos mais tarde mas hoje sabe-se (há estudos científicos) que há uma janela imunológica (dos 6 aos 8 meses) durante a qual o bebé deve ser apresentado ao maior número de alimentos possíveis e que isso poderá contribuir para a diminuição do risco de desenvolvimento de alergias. Assim sendo, o bebé pode ser apresentado a qualquer alimento que seja saudável, fácil de agarrar, de trincar e de mastigar, sem risco óbvio de provocar engasgamento e que a família também coma. Lembrem-se que os bebés aprendem por exemplo e por isso é uma boa altura para rever os hábitos alimentares da família.
Regra de ouro número 1: nunca introduzir alimentos na boca do bebé. É ele que os introduz se quiser.
Regra de ouro número 2: nunca deixar o bebé sozinho com os alimentos.
Alguns exemplos de bons alimentos para começar o BLW (esta lista não é exaustiva): Frutas:
banana madura (podemos deixar parte da casca para o bebé agarrar),
pêra madura e sem casca (podemos descascar uma pêra inteira se for pequena e dar a primeira dentada e o bebé vai comer a partir daí),
laranja sem a parte branca às rodelas (nunca aos gomos),
maçã ligeiramente cozida (crua é propensa a provocar engasgamento),
mamão em pedaços,
manga em pedaços (ou naquele corte tipo “tartaruga”),
melão e melancia sem as pevides em pedaços grandes.
Os frutos mais pequenos como as uvas (cortadas ao meio, sem grainha e sem casca) e os morangos (cortado ao meio) deverão ser dados quando eles desenvolverem o movimento de pinça.
O abacate é uma excelente opção (se estiver demasiado mole deixar um pouco da casca para o bebé agarrar).
Preferir sempre fruta da época.
Vegetais:
brócolos, curgete, batata doce, abóbora, cenoura, pastinaga, etc, assados ou cozidos em palitos ligeiramente maiores que o punho do bebé. Não deverão ser demasiado cozidos ou o bebé vai esmagar, nem demasiado duros. Podemos testar se conseguimos partir com a nossa língua.
Os vegetais folhosos poderão ser introduzidos mais tarde quando comer sopas ou em pastéis e hambúrgueres.
Cereais:
aveia, centeio, espelta, trigo sarraceno, arroz, quinoa, etc.
em bolachas sem açúcar, em papas (quando as comer por si), panquecas, etc.
Preferir os integrais. Evitar refinados.
No workshop a Dra. Graça sugeriu que o arroz fosse dado em bolinhas para o bebé pegar, podendo-se usar o arroz glutinoso, o carolino ou o de risotto. Eu acho que será mais natural esperar que ele desenvolva o movimento de pinça para pegar nos grãos de arroz.
As papas de aveia podem ser feitas de forma mais espessa para que o bebé consiga agarrar ou então esperar que ele as coma à colher.
Sementes e Oleaginosas:
não podem ser dadas inteiras nem em pedaços pelo risco de engasgamento mas podem ser introduzidas moídas em bolachas ou papas ou mesmo manteigas (incluindo manteiga de amendoim!).
Leguminosas:
podem ser dadas inteiras quando o bebé fizer pinça ou antes disso em pastéis, hambúrgueres, etc.
Especiarias:
todas podem ser usadas exceto a pimenta. Não usar sal no primeiro ano de vida.
Gorduras:
azeite e óleo de côco. Nunca dar gorduras hidrogenadas. Atenção aos rótulos: quando diz gordura vegetal e não especifica geralmente é hidrogenada.
Água:
deve estar disponível quando se inicia a alimentação complementar. Deve ser dada num copo pequeno que o bebé possa pegar, sem bicos. Para evitar “banhos” colocar pouca água de cada vez. É ele que deve procurar a água.
Então não podemos dar papas e sopas?
Claro que sim, se for isso que a família come. Recomenda-se que o bebé coma sopa e papas quando conseguir pegar na colher e levar à boca, o que vai demorar a desenvolver. Não é recomendável, por exemplo, numas refeições deixá-lo à vontade com os alimentos e noutras forçá-los a comer a sopa dada por nós pois isso vai ser muito confuso para ele. É importante ser-se coerente.
É óbvio que na vida real, em que as mães são mandadas de volta ao trabalho após 5-6 meses na melhor das hipóteses, isto torna-se difícil. Cada uma faz o melhor que consegue e se o bebé precisa de comer sopa à colher numa das refeições e não há outra alternativa então terá de ser. (Estas licenças de maternidade que não respeitão as mães e os bebés revoltam-me MUITO mas isso daria um outro post…).
Então mas o bebé não se vai engasgar? É provável que sim! Mas não mais do que se engasga com o leite ou se engasgaria com as papas e sopas dadas à colher por nós. Os bebés engasgam-se mais com líquidos do que com sólidos e engasgam-se mais se for alguém a introduzir um alimento na boca deles do que se forem eles próprios a fazê-lo. Os bebés têm reflexos de proteção e vão fazer muitas caretas (fazem muito aquela cara de que parece que vão vomitar). É normal, nada de pânico (ui, vai ser difícil…). Eles resolvem sozinhos a grande maioria das vezes. Mas não esquecer a regra de ouro número 1: nunca deixar o bebé sozinho com os alimentos.
Os alimentos têm de ser biológicos? Num mundo perfeito sim! Biológico seria sempre preferível, não só porque é melhor para o nosso bebémas também porque é melhor para o ambiente. Mas é muito difícil conseguirmos usar apenas produtos biológicos, não só pelo preço mas também pela disponibilidade e oferta dos alimentos que ainda não é muita cá em Portugal (embora estejamos cada vez melhores neste aspeto). Então, se possível, podemos optar por usar alimentos biológicos naqueles casos em que há maior risco de contaminação de pesticidas. A Enf. Carmen facilitou-nos uma lista de alimentos em que é melhor escolher bio e outra em que não é assim tão essencial. Podem consultar aqui.
O workshop teve também uma parte “prática” em que nos sentámos à mesa com os bebés no nosso colo e lhes colocámos alimentos à frente. Eu mostrei ao JD um pedaço de banana e um brócolo para ver o que ele fazia. Ele ficou mais interessado no guardanapo que estava por baixo e no individual de plástico que era vermelho. Sentiu as texturas de ambos os alimentos mas nunca levou à boca. No final foi com a cara à banana e lá tocou com a língua mas não mostrou interesse em comer. Na altura do workshop ele só tinha 5 meses e uma semana e por isso é natural que ainda não esteja pronto para comer. Mas houve outros bebés mais velhinhos que se deliciaram! Escolheram o que queriam comer, levaram os alimentos à boca e comeram com gosto! Um regalo de ver!
Como estou a pensar fazer com o JD?
Como já referi, o BLW surgiu-me por instinto mesmo antes de saber que existia. Por isso vamos experimentar quando chegar a altura. Eu como muitas vezes com o JD ao meu colo e ele quer sempre agarrar a tijela ou o prato e esmagar o que estou a comer mas nada mais que isso por enquanto. Quando acharmos que ele está pronto para ir para a cadeirinha lá o colocaremos para experimentar.
Não tenho receio nenhum em dar primeiro fruta. Sei que isso é uma “regra” do método convencional (não dar fruta porque se vão habituar ao doce e não querem vegetais) porque acho que não faz sentido e acredito que seja um mito. O leite materno é extremamente doce (já provei uma gotinha do meu e é mesmo MUITO doce) e por isso é normal que eles queiram coisas doces. Nós temos uma apetência natural para o doce por questões de sobrevivência. O que não significa que não tenhamos gosto em comer coisas menos doces também. Vou certamente partilhar as nossas aventuras convosco, fiquem atentos ao meu Instagram e Facebook.
Quanto ao workshop, estou muito contente por ter participado. Sinto-me muito mais segura e confiante e foi muito bom o pai estar também presente (a inscrição é para a família toda). Assim somos dois no mesmo barco e podemos explicar às avós com mais confiança que o sonho delas de dar a papinha ao neto vai ter de ser adiado (sorry grandmas…).
Em conversa com a Leonor do blog Na Cadeira da Papa descobri a “mãe” do BLW, a Gill Rapley. Não me recordo se foi mencionada no workshop ou não. Ela é autora de dois livros sobre BLW e no seu sitepodem encontrar também alguma informação sobre o assunto.
Espero que esta informação vos tenha sido útil. Mães experientes, se quiserem fazer alguma correção, partilhar a vossa experiência ou acrescentar algo que considerem importante por favor comentem!
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