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Trabalhar para pagar a creche

Foto do escritor: Just Natural PleaseJust Natural Please

Atualizado: 27 de jun. de 2018

Esta publicação foi bastante ponderada. Hesitei bastante em publicá-la pois sei que corro o risco de ser mal interpretada e de magoar alguém fragilizado. Não é de todo a minha intenção.

Apesar da hesitação, a minha consciência diz-me que o devo fazer porque há alguns anos atrás algumas pessoas com quem falei e coisas que li e vi na internet deram-me o "empurrão" que me faltava para mudar a minha vida. Não viveria tranquila sabendo que poderia desperdiçar a oportunidade ser o "empurrão" que falta a alguém para viver a vida que quer.

No outro dia deparei-me com uma notícia que dizia que "demasiadas horas na creche afetam as crianças, podendo criar sentimentos de abandono", e que "o limite de horas aceitável são 6 horas diárias, mas muitas são as crianças que passam 10-12 horas na creche". Nos comentários da notícia liam-se inúmeros pais e mães revoltados, questionando a intenção da tal notícia. "Isto é para nos fazer sentir ainda mais culpados?", "Não temos alternativa, temos de trabalhar para pagar as contas.".

De facto há pais e mães que não têm mesmo alternativa, que mesmo trabalhando os dois já vivem no limite da sua dignidade, fazendo todo o tipo de esforços e ginástica orçamental para garantir que conseguem o mínimo essencial para a sua família.

Escrevo este post para aquelas mães que vivem angustiadas com a ideia de terem de se afastar dos seus bebés porque têm de ir trabalhar. Isto é para aquelas mães que, apesar da angústia que sentem, lá arranjam forças e entregam os seus bebés à creche porque a mísera licença de 4-5-6 meses chegou ao fim e têm de regressar ao trabalho, mesmo sabendo no fundo dos seus corações que o melhor para elas e para os seus bebés seria continuarem juntos por mais uns meses/anos. 



A sociedade é muito boa a ensinar-nos a funcionar em "modo automático", a fazer sem questionar, a seguir a norma. A sociedade é também muito boa a fazer-nos acreditar que o sucesso se mede pelo tamanho da casa, a cilindrada do carro e a geração do telemóvel. 

E muitas vezes, sem nos darmos conta, estamos a trabalhar para pagar o próprio trabalho. Estamos a trabalhar para pagar a creche onde deixamos os nossos filhos porque vamos trabalhar, a gasolina que gastamos para ir para o trabalho, as roupas, os sapatos, o cabeleireiro e a maquilhagem para nos apresentarmos bem (porque a imagem às vezes conta mais que a competência), os cafezinhos e almoços fora com os colegas de trabalho (com quem talvez não nos identifiquemos), a senhora da limpeza (porque estando a trabalhar não temos tempo para limpar), a comida pré-feita e as papas de pacote (porque não temos tempo para cozinhar), as latas de leite (porque a amamentação fica comprometida com a ida para a creche), etc, etc, etc...

A sociedade é (...) muito boa a fazer-nos acreditar que o sucesso se mede pelo tamanho da casa, a cilindrada do carro e a geração do telemóvel. 

E tudo o que queríamos mesmo era ter mais tempo para estar com os nossos filhos.

Sei que há mulheres que adoram o que fazem a nível profissional, que se sentem confortáveis com a ida dos seus bebés para a creche, e que conseguem conciliar às mil maravilhas a sua carreira profissional com ter filhos. Ótimo! Não estou a julgar ninguém, não estou a dizer se está certo ou errado (quem sou eu...).

A única coisa que quero com este post é dizer às mães que adorariam poder ficar prolongadamente com os seus filhos pequenos que talvez o possam fazer! 

Façam as vossas contas, sentem-me com o vosso parceiro e ponderem os prós e os contras. Ponderem se de facto precisam de ter todas as despesas que têm atualmente. É tudo uma questão de prioridades e de realmente decidirem o que é mais importante para vocês. Porque talvez até nem precisem de ir ao ginásio. Talvez até nem precisem comprar tanta roupa. Talvez até pudessem ter um carro que consuma menos. Talvez até pudessem viver numa casa mais pequena e numa zona do país mais económica...Talvez pudessem TER menos coisas e SER mais felizes com isso.

"Mas um bebé dá muita despesa!" - talvez sim ou talvez não.

​A sociedade e o marketing fazem-nos acreditar que sim, que existe uma lista interminável de coisas essenciais a ter com a chegada de um bebé. Mas bem analisadas as coisas, quase tudo é opcional e o que um bebé saudável realmente precisa é muito pouco. Talvez a única coisa que seja obrigatória hoje em dia por lei seja o ovo para transportar o bebé no carro.

Talvez pudessem TER menos coisas e SER mais felizes com isso.

Mas talvez o bebé não precise de tantos produtos de cosmética, pois um banho com água talvez seja suficiente (nós damos muitas vezes só com água). Talvez o bebé não precise de caixas e caixas de toalhitas dodot (porque uma toalha molhada em água até é mais saudável para a pele, melhor para o ambiente e bem mais económico). Talvez o bebé nem precise de ter tantos brinquedos, porque qualquer utensílio de cozinha ou objeto da casa é fascinante para ele. Talvez o bebé nem precise de ter carrinho para ser transportado porque os braços do pai ou da mãe são o sítio onde se sente mais seguro e confiante e onde melhor descobre o mundo (o nosso carrinho está arrumado na arrecadação há meses, a maioria das vezes o JD anda nos nossos braços ou na mochila). Talvez o bebé nem precise de uma cadeira para comer, talvez ele coma melhor no nosso colo ou mesmo sentado no chão. Talvez o bebé nem precise de um pediatra no privado porque como não foi para a creche talvez não fique tantas vezes doente (nós não temos pediatra, felizmente nunca sentimos necessidade, recorremos apenas ao centro de saúde). Talvez o bebé nem precise de berço porque talvez o melhor sítio para ele dormir seja a cama dos pais (se soubesse o que sei hoje não tinha comprado berço).

Existem inúmeras formas de poupar e de encontrar a felicidade em viver com menos. E existem também muitas formas de fazer algum dinheiro mesmo estando em casa com um bebé. Talvez haja algo que possam ensinar em workshops. Talvez possam tomar conta de outra criança para além do vosso bebé (consultem as exigências legais para tal). Talvez possam criar um pequeno negócio que possam gerir a partir de casa, etc, etc, etc...

Há uns tempos atrás alguém me dizia: "que pena que é teres estudado tanto e teres feito um doutoramento e agora não estares a aproveitar os teus estudos". Pena seria ficar presa a um emprego que não me fazia feliz e não poder fazer a coisa mais importante para mim neste momento que é estar com o meu bebé só porque tenho um grau académico e porque tenho que pagar despesas que podem ser evitadas. Engraçado como quase ninguém tem a ousadia de dizer "que pena que é teres de colocar o teu bebé na creche para poderes ir trabalhar". 

E mais uma vez repito, sei que há famílias que já vivem nos seus limites e que não têm escolha. Sei que há famílias que têm o infortúnio de ter crianças especiais, com necessidades específicas que realmente precisam de ter dinheiro para pagar as despesas básicas. Não escrevo para vocês. Nem escrevo para quem a creche é uma grande ajuda na dinâmica das suas vidas e é a forma da família melhor funcionar como um todo.

Escrevo apenas para as mães que têm uma vontade imensa de mudar de vida e fazer o que o coração lhes pede mas se sentem presas à rotina, àquilo que é convencional. A vocês que só precisam de um "empurrão", de que o "click" ocorra na vossa cabeça, que o nevoeiro se levante dos vossos olhos, espero genuinamente ter contribuído para que possam VIVER A VIDA QUE QUEREM VIVER!

Porque não somos o que temos mas sim o que damos. E os nossos filhos jamais se lembrarão de um brinquedo que não receberam ou do carro que o pai não conduziu, mas um choro não atendido, um colo não facultado, um apego não seguro podem deixar marcas para a vida.

​(...) um choro não atendido, um colo não facultado, um apego não seguro podem deixar marcas para a vida.




A mão que embala o berço é a mão que governa o mundo. Abraham Lincoln



(Podem ler as dezenas de comentários a este post no meu blog inicial aqui).


27 de junho de 2018

Um ano depois, o que mudou


Um ano depois de ter escrito este artigo, o artigo mais lido, comentado e partilhado de sempre deste blog, ele continua alinhado com os valores da nossa família.


Muitas foram as mães (e pais também, peço desculpa por vos ter deixado de fora no artigo original) que comentaram e partilharam experiências de vida semelhantes à nossa. Algumas mulheres agradeceram-me o facto de as ter feito repensar a suas vidas e prioridades. Outras comentaram cordialmente dizendo que percebiam a minha escolha mas não se identificavam com a mesma pelos mais variados motivos (não queriam ficar 24 h com os filhos, não queriam sair do mercado de trabalho, não queriam depender do cônjuge, não queriam abdicar de colocar os filhos num bom colégio, etc). Algumas insurgiram-se indignadas e um pouco revoltadas até sentido-se injustiçadas com as minhas palavras. Lamento se for esse o caso.


Reforço que não pretendo julgar ninguém. Todas as formas de vida são válidas!


Reitero que não vivemos de subsídios (alguém pensou que sim) nem somos provenientes de famílias abastadas. Vivemos de forma modesta do ordenado do meu marido (que não é enorme mas é o suficiente para o que nos faz falta) e do algum dinheiro que consigo fazer do meu negócio e fazemos as nossas contribuições. Temos boa comida na mesa (é importante para nós) e uma casa modesta que estamos a pagar ao banco, coisas pelas quais estamos enormemente gratos. Dizemos "não" a coisas para nós supérfluas ou coisas que sirvam apenas para criar uma aparência de vida. Não queremos viver de aparências. Queremos viver de forma alinhada com os nossos valores, com simplicidade, plenitude e amor.


Um beijinho,

Joana



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