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O que eu mudava no meu pós-parto: reabilitação pélvica (com a fisioterapeuta Soraia Coelho)

Foto do escritor: Just Natural PleaseJust Natural Please

No que toca à saúde pélvica e recuperação da tonicidade do meu pavimento pélvico, o meu pós-parto esteve longe do ideal (para ficar a par dos problemas que tive leia este artigo). Por um lado, é certo que o acompanhamento que recebi de início, que infelizmente corresponde ao que a generalidade das mulheres recebe nesta fase tão delicada, não foi suficiente ou foi mesmo dotado de informações erradas. Por outro lado, reconheço que fui um pouco descuidada na recuperação do meu corpo nesta fase, até largos meses após o parto, quando decidi finalmente procurar ajuda.


Infelizmente, penso que muitas mulheres se identificam com o meu caso e por isso convido-te a ti Soraia, enquanto fisioterapeuta especialista em reabilitação pélvica, para nos ajudares a identificar o que esteve errado no meu pós-parto e a delinear um pós-parto mais harmonioso no que diz respeito à saúde pélvica da mulher.



J: Nos primeiros 5-7 dias após o parto não sentia grande controlo da minha bexiga. Quando tinha percepção da vontade de urinar, muitas vezes já era tarde demais. Comentei com uma enfermeira ainda maternidade, mas ela não deu grande importância e aconselhou-me apenas a ir à casa de banho com maior frequência. É normal uma mulher ter estes sintomas logo após o parto? Há alguma coisa que a mulher possa fazer nesta fase? (Relembro que foi um parto com ventosa.)


Ft. Soraia: A gravidez é uma das fases mais normais de disfunção. Os seus ligamentos encontram-se laxos, a sua postura descoordenada e desalinhada, o útero cresce exponencialmente, os órgãos são puxados para o lado, o centro de gravidade desloca-se para fora, rapidamente ganha peso, e alguém passa os seus dias a dar pontapés dentro da sua barriga. A gravidez e o parto inevitavelmente deixam uma marca no corpo da mulher.


Preferencialmente a mulher deveria ter feito na altura do pré-parto sessões de preparação pélvica para o parto de forma a apreender como contrair a musculatura pélvica. Mas não só contrair, também aprender a relaxar. E não é tão estranho assim. Muitas mulheres em vez de contraírem o pavimento pélvico, contraem os glúteos, abdómen, cruzam as pernas ou alongam o períneo. Por isso nunca podemos garantir apenas visualmente ou apenas com comandos verbais se a mulher está a realizar de forma correta os exercícios. Os músculos situam-se interiormente na zona pélvica.


Sabendo como realizar estes exercícios, mal a mulher se sinta bem no seu pós-parto, pode iniciar exercícios recomendados de forma a ir fortalecendo gradualmente. No entanto, esta situação é sempre muito generalizada. Terá de ser avaliado caso a caso.



"Preferencialmente a mulher deveria ter feito na altura do pré-parto sessões de preparação pélvica para o parto de forma a apreender como contrair a musculatura pélvica."



J: Entretanto, nas semanas seguintes os sintomas acalmaram um pouco e senti vontade de iniciar a minha atividade física, após apenas duas semanas e meia do parto. Iniciei com exercícios muito ligeiros direcionados ao pós-parto, que encontrei no YouTube. Como estes não envolviam esforços maiores não tinha perdas e sentia-me bem. Ainda assim, penso que fui descuidada ao ter iniciado a minha atividade física tão cedo e sem qualquer avaliação por parte de um profissional de saúde. Para uma mulher como eu, que tenha tido uma prática regular de exercício físico antes e durante a gravidez, quando e como pode essa prática ser retomada no pós-parto?


Ft. Soraia: As alterações, desconfortos e dores físicas após a gravidez e o parto são muito reais. A maioria dessas alterações e desconforto tem origem num colapso do core (é o centro do nosso corpo, conjunto de músculos responsável pelo nosso equilíbrio e pela adequação postural do tronco em qualquer movimento) e do pavimento pélvico, o que faz que se algo não está a funcionar corretamente, então tudo o que tem que trabalhar em torno ou com este, basicamente, não funciona também.


A prática após o parto nunca deve ser iniciada antes de 8 semanas após o parto. Devemos reaprender o dar tempo ao tempo. O corpo passou por uma experiência linda, mas que não deixou de ser uma batalha árdua para este. O útero necessita de involuir, os órgãos realinhar, a diastasis fechar um pouco. O trabalho de carga e hiperpressivo deve ser evitado, e dar primazia a um trabalho cardiovascular acompanhado e gradual. Não focar também muito na avaliação de pregas adiposas ou IMC. Uma mulher que amamenta vai apresentar diferenças significativas nesses dados, que não devem ser muito levados em consideração.

Se preferirem serem acompanhadas, que seja com profissionais competentes com especialização em planos de treino no pós parto.



"A prática após o parto nunca deve ser iniciada antes de 8 semanas após o parto. Devemos reaprender o dar tempo ao tempo."



Agora, 18 meses após o parto, olho para estas fotografias e não me reconheço nesta pressa de recuperar a forma física e nesta obsessão com a minha imagem. Felizmente amadureci...



J. Aos 42 dias de pós-parto tive finalmente a avaliação pelo meu médico de família (a revisão pós-parto, como lhe chamam). O meu médico fez-me algumas perguntas (nomeadamente se sentia dor nas relações sexuais), fez colheita para Papanicolau e avaliou a involução do meu útero. Na altura ainda não estava ciente da minha incontinência urinária de esforço porque ainda não tinha iniciado esforços maiores e por isso não me queixei. Não avaliou o meu abdómen, não referiu qualquer existência de prolapso vaginal e deu-me luz verde para fazer a minha vida normal. A minha má condição pélvica passou completamente despercebida nesta avaliação, assim como a acentuada diastese abdominal que só descobri ter quanto cheguei a ti. Na tua opinião, quando, como e por quem deveria ser feita esta primeira avaliação de pós-parto?


Ft. Soraia: Consultar um fisioterapeuta especialista em reabilitação pélvica e uroginecológica após a gravidez e o parto, não é de facto, um cuidado de saúde padronizado no nosso país, mas deveria ser. Algumas mães realizam um check-up com fisioterapeutas simplesmente como uma segurança para iniciarem a sua atividade física, ou para terem a certeza que “está tudo bem lá em baixo”. Podem não apresentar algum tipo de sintoma, apenas procuram retornar à sua vida com a certeza que estará tudo bem. Esse check-up não deverá ser realizado antes das 8 semanas de pós-parto. Mas existem exceções. Se tiver dor no local da cicatriz, se as perdas urinárias ou fecais foram extremas, se existir desconforto na zona pélvica.



J: Só após 5 meses de pós-parto decidi finalmente procurar ajuda junto do meu médico de família relativamente às perdas de urina que, entretanto, me apercebi ter aos esforços (correr, saltar, espirrar...). Saio da consulta com ordem para esperar mais um mês antes de ser encaminhada para o especialista e para fazer exercícios de Kegel de forma intensiva para ver se a situação de resolvia por si. Para as mulheres que se encontram em situações semelhantes, devem elas também fazer exercícios de Kegel de forma intensiva para ver se a situação se resolve ou deverão procurar ajuda especializada o quanto antes?


Ft. Soraia: Primeiramente devem procurar ajuda. É importante saber se deveremos ou não prescrever esse tipo de exercícios à mulher. Cada caso é um caso, e não existe uma “receita de bolo" para todas as mulheres. Por vezes, essas contrações estão completamente desaconselhadas. A incontinência urinária pode ser uma consequência e não uma causa. E por isso existe sempre a necessidade de uma boa avaliação por profissionais especializados.



"Cada caso é um caso, e não existe uma “receita de bolo" para todas as mulheres. Por vezes, essas contrações (Kegel) estão completamente desaconselhadas."



J: Quando me fizeste a primeira avaliação lembro-me de me perguntares que tipo de episiotomia me tinham feito e de eu não te saber responder pois não recebi qualquer informação no hospital a esse respeito. Também não recebi qualquer instrução de como tratar da minha cicatriz. Neste âmbito, que informações deveria uma mulher receber sobre o seu parto antes de receber alta hospitalar?


Ft. Soraia: No caso de parto vaginal, deveria ser ensinado como massajar a cicatriz e a importância desse ato (evitar aderências, dores durante a relação sexual, promover a mobilidade da cicatriz). Ter atenção aos hematomas vulvares, e procurar ajuda com uma enfermeira, caso se mantenham.

No caso de uma cesariana, cuidados iniciais com a cicatriz (sinais de rubor ou inflamação, dor ou exsudado) e depois de cicatrizada como a massajar. Não colocar apenas creme. Mobilizar bem os tecidos.

Ter em atenção que muitas mulheres após a cesariana apresentam obstipação. Por isso importante também aprender a massajar o abdómen para evitar ou melhorar essa situação.


Nota: Esta receita de sopa rica para pós-parto poderá ajudar nas situações de obstipação.




J: Sei que para além da incontinência urinária, outro assunto tabu no pós-parto é a retoma da atividade sexual com o parceiro. Quanto tempo deve a mulher esperar até retomar a atividade sexual? Que alterações poderá experenciar a este nível e quando deverá procurar ajuda?


Ft. Soraia: “....O tempo pergunta ao tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem....”

E o que quero eu dizer com isso? Não existe um tempo certo, nem existe uma data limite. Deverá ocorrer quando a mulher se sentir preparada para isso. A sexualidade é algo que tem de ser prazerosa, e não uma obrigação ou mais uma tarefa do dia-a-dia.

É importante que a mulher redescubra esse novo corpo, o que dá prazer, o que gosta, o que lhe não se sente bem. Relembrar também que a relação sexual não envolve obrigatoriamente a penetração.

Dependentemente do parto, a mulher poderá sentir dor na cicatriz da laceração ou episiotomia, desconforto com a pressão na cicatriz da cesariana, secura vaginal, diminuição da libido. Não hesite em conversar com o seu companheiro, ou mesmo pedir ajuda.

Nesta fase, de forma a evitar desconfortos maiores, usar sempre um lubrificante à base de água ou à base de óleos vegetais. Evitar qualquer um com base de silicone ou com álcool. Manter a massagem das cicatrizes e, se o desconforto for intenso, experimentar posições diferentes.


Nota: A Soraia recomendou-me este lubrificante (vegan) e eu recomendo-o vivamente.



"Não existe um tempo certo, nem existe uma data limite (para as relações sexuais). Deverá ocorrer quando a mulher se sentir preparada para isso."



J: Para além do pós-parto, os problemas pélvicos e disfunções sexuais podem acontecer na mulher em qualquer idade, correto? Que sinais e sintomas devem fazer uma mulher, esteja ela no pós-parto ou não, procurar ajuda especializada?


Ft. Soraia: A perda urinária é a mais frequente, e a mais banalizada. Se tem perdas de urina ou fezes quando espirra, tosse, carrega em pesos deverá procurar ajuda. Ou se tem dificuldade de manter a continência e sente que tem de ir logo à casa de banho ou irá ter perdas.

A dor durante a relação sexual também deverá ser avaliada. E não, não é normal nem consequência da idade ou culpa de estar a amamentar. A dor sinal eu algo não está bem, e sim a ajuda existe



"Se tem perdas de urina ou fezes quando espirra, tosse, carrega em pesos deverá procurar ajuda."



J: E para finalizar, o pavimento pélvico deve ser cuidado e trabalhado em todas as mulheres ou apenas naquelas que revelem disfunções? O que poderá uma mulher comum (sem queixas) fazer?


Ft. Soraia: Todas nós cuidamos do nosso corpo de uma forma geral. Vamos ao ginásio, procuramos tratamentos estéticos, comemos melhor, fazemos exames de rotina. Porque não vemos a nossa área pélvica como sendo parte do nosso corpo?

Primeiramente a mulher deverá fazer as pazes com o seu corpo e perceber a sua anatomia. Quantas de nós nunca se viu a um espelho? Após isso perceber se a musculatura está bem. Sabe contrair, mas sabe também relaxar? É importante que os nossos músculos tenham capacidade de se moverem na sua amplitude total.

E em caso de duvida, procurem ajuda.



"Primeiramente a mulher deverá fazer as pazes com o seu corpo e perceber a sua anatomia. Quantas de nós nunca se viu a um espelho? "






Obrigada Soraia! Bem hajas pela dedicação, respeito e carinho com que tratas cada mulher que te chega. E para acompanhar esta deliciosa conversa não poderia faltar uma boa receita: uma sopa rica ideal para o pós-parto.




Entre em contacto com a Soraia aqui.


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